Análise do jogo Final Fantasy XVI

Quando o primeiro Final Fantasy foi lançado eu nem nascido era. Essa é uma franquia que passou por várias gerações de consoles sem perder relevância e foi se moldando conforme a tecnologia avançava, implementando mudanças que em alguns casos dividiram opiniões. Tendo como pano de fundo uma trama medieval complexa e rica em detalhes, com Final Fantasy XVI a Square Enix buscou novamente apostar em algo diferente, criando uma experiência de ação com elementos de RPG.

A história de Final Fantasy XVI se passa em Valisthea, um mundo dividido em dois continentes e com grandes montanhas de Cristais-Máter, que fornecem o éter necessário para a magia que as pessoas utilizam no dia a dia. Ao redor dessas montanhas surgiram nações poderosas que mantêm a paz entre si na medida do possível, situação que tende a se tornar cada vez mais desafiadora frente à escassez do éter e ao surgimento de uma Praga que vem se espalhando e acabando com todo tipo de vida que encontra pela frente, tornando-se uma verdadeira ameaça para a sociedade.

Ao contrário da maioria das pessoas, os Portadores e Dominantes nasceram com a habilidade de conjurar magia sem depender de pedaços de cristais. Além disso, os Dominantes têm no seu interior o poder adormecido de um Eikon, seres mágicos com uma poderosa e letal força divina. Os Dominantes costumam ser temidos e respeitados, mas há casos em que são contidos e forçados a servir como armas de guerra. Já o destino dos Portadores é mais complicado: alvo de preconceito, eles são escravizados e têm o rosto marcado por serem considerados inferiores aos humanos.

É em meio a esse universo que assumimos o controle de Clive Rosfield, o filho primogênito do arquiduque de Rosaria. Esperava-se que Clive herdasse as chamas da Fênix e despertasse como seu Dominante, mas o destino escolheu Joshua, seu irmão caçula, para esse fardo. Tal fato faz com que o protagonista sofra uma enorme rejeição da própria mãe, que sempre o tratou de forma mesquinha. Quando sua família foi alvo de uma tragédia no passado, Clive perdeu o status de nobreza e o destino acabou fazendo com que ele se tornasse um soldado escravo do Sacro Império de Sanbreque. O protagonista, no entanto, carrega consigo um forte sentimento de vingança, algo que o motiva a abandonar sua vida atual e a traçar seu próprio caminho em busca de respostas.

Durante sua trajetória, Clive conhece e reencontra pessoas que lhe ajudam a alcançar o seu propósito, como Cid e Jill. Cid é um fora da lei que busca construir um mundo melhor e mais igual para todos, onde os Portadores perseguidos e os Dominantes explorados possam viver tranquilamente. Além disso, Cid também tem ideia do que pode estar causando a ruína de Valisthea e possui uma rede de aliados que se mostra bastante útil durante a jornada. Já Jill é uma antiga amiga de Clive que sofreu nas mãos de outras pessoas até seu destino novamente se cruzar com o do protagonista. Ela é extremamente leal e sempre que pode acompanha Clive em suas missões, compreendendo cada um dos seus anseios.

Tudo o que mencionei é apenas uma parcela superficial da narrativa de Final Fantasy XVI, que por sinal é envolvente e bem desenvolvida, embora adote um ritmo mais lento na sua parte intermediária. Cientes da complexidade da trama, os desenvolvedores adicionaram um recurso chamado Sumário Dinâmico: segurando um botão o jogador pode a qualquer momento, inclusive durante as cutscenes, acessar um menu contextual com resumos rápidos sobre os personagens, locais e fatos importantes relacionados com que está acontecendo naquele momento. Esse foi um recurso que usei bastante ao longo da jogatina para ter uma melhor compreensão dos eventos do game. Contando com a presença de ótimos antagonistas, a narrativa aborda os problemas presentes na sociedade, as intrigas entre os reinos e o que as pessoas são capazes de fazer por poder. Seja como for, cada personagem tem motivações que justificam suas ações.

Adotando uma estrutura de mundo semiaberto, as viagens entre as regiões do game são feitas por meio da seleção de locais no mapa. O tamanho e a estrutura das áreas variam bastante, algumas são lineares, enquanto outras são mais amplas, momento em que podemos utilizar Chocobos para acelerar os deslocamentos. Percorrendo as regiões desbloqueamos pontos de viagem rápida, o que facilita o retorno a locais específicos de uma área. Esses ambientes poderiam ser melhor aproveitados se o jogo incentivasse a exploração: sair da rota padrão para vasculhar os cenários ou enfrentar criaturas costuma ser pouco recompensador.

Sempre que subimos de nível, melhoramos as estatísticas de Clive e ganhamos pontos para desbloquear novas habilidades. Podemos também aumentar os pontos de vida, ataque, defesa e atordoamento do protagonista comprando, criando e melhorando seus equipamentos. O verdadeiro foco do título está na ação, ficando os elementos de RPG quase que em segundo plano. O combate acontece em tempo real, assemelhando-se a títulos do gênero hack and slash. Clive é capaz de realizar ataques corpo a corpo, fazer uso de magia, esquivar e utilizar uma série de habilidades elementais que vamos desbloqueando conforme progredimos. Quando o ímpeto dos oponentes é rompido e eles ficam atordoados, temos a oportunidade de aumentar o multiplicador de dano realizando uma sucessão de ataques. Em momentos específicos da aventura temos batalhas entre Eikon, ocasião em que há um maior apelo cinematográfico do que a luta propriamente em si, mas não foi algo que me desagradou.

Ao invés de pedir a seleção de um nível de dificuldade no início da jornada, Final Fantasy XVI conta com acessórios que permitem moldar a jogabilidade, tornando-se acessível para todos os tipos de jogadores. Além de aumentar os pontos de ataque e defesa, amplificar o dano ou diminuir o tempo de recarga de determinados ataques especiais, esses acessórios também servem para tornar o game mais fácil, possibilitando que Clive esquive automaticamente de ataques, realize combinações complexas de habilidade de forma facilitada ou use instintivamente uma poção de cura quando a vida estiver abaixo de um determinado patamar. No total, o protagonista pode ser livremente equipado com até três acessórios.

Entre os objetivos da campanha, podemos completar missões secundárias e matar criaturas presentes no quadro de caça. As missões secundárias é o aspecto em que o jogo mais deixa a desejar: enquanto algumas aprofundam determinados personagens da narrativa, outras são simples até demais. O quadro de caças, por sua vez, oferece recompensas por matar criaturas notórias que causam preocupação na população local. O título conta ainda com o Modo Arcade, onde podemos repetir fases previamente concluídas e receber pontos de acordo com o desempenho obtido, e o Salão da Virtude, local que possibilita a realização de treinamentos.

Em termos visuais, Final Fantasy XVI destaca-se principalmente pela construção de seus personagens, o nível de detalhamento realmente chega a impressionar. Os ambientes não atingem esse elevado padrão, mas ainda assim é um game com cenários bonitos e variados, enfatizando as diferenças existentes no seu mundo. Já com relação ao som, a trilha sonora composta por Masayoshi Soken é simplesmente espetacular, contribuindo para a transmissão de diversos tipos de emoções ao longo da campanha. A dublagem em inglês e os demais elementos sonoros também são de extrema qualidade.

Sempre que um jogo me dá a possibilidade de escolher entre os modos de desempenho ou qualidade, geralmente tendo a escolher pela primeira opção para jogar em uma taxa de quadros mais elevada. Iniciei minha aventura seguindo essa premissa, mas ao notar uma resolução mais baixa nos ambientes abertos, decidi alterar para o modo qualidade e jogar a 30 fps. Durante a maior parte do tempo não presenciei nenhum problema técnico ou bug, porém, na reta final o jogo travou e fechou sozinho duas vezes.

Final Fantasy XVI está disponível para PlayStation 5, PC e Xbox Series. Esta análise foi feita com base na versão do Xbox Series X com uma cópia fornecida pela Square Enix.

Considerações finais
Final Fantasy XVI logra êxito em construir um universo narrativo profundo e com personagens marcantes. Embora haja uma certa monotonia na parte central, o começo e a conclusão da história são bastante empolgantes. Junto com Clive vivenciamos uma jornada emocionante repleta de surpresas, mostrando as mazelas de uma sociedade medieval marcada pelo preconceito e uma profunda dependência da magia. O mundo de Valisthea é heterogêneo e o jogo sabe explorar bem as peculiaridades de cada reino.

Focada na ação, a jogabilidade é divertida e apresenta opções interessantes de personalização. Os elementos de RPG estão presentes, mas ganham um destaque menor. O game peca por apresentar algumas missões secundárias pouco inspiradoras e pela falta de incentivo em explorar os ambientes. Com gráficos bonitos e uma trilha sonora fabulosa, Final Fantasy XVI entrega uma experiência agradável e que funciona bem dentro daquilo que se propõe, mas as mudanças implementadas no gameplay podem não agradar todos os fãs da franquia.

★★★★☆Ótimo
Criador e editor do Portal E7, Herbert é advogado, amante de games e séries. Gamertag/ID: "HerbertVFV".
Deixe seu comentário ›