Análise do jogo Little Nightmares III

Após ter desenvolvido Little Nightmares e sua sequência, o Tarsier Studios comunicou que não trabalharia mais na franquia após ter sido adquirido pelo Embracer Group. Detentora dos direitos da série, a Bandai Namco então colocou nas mãos da Supermassive Games a missão de desenvolver Little Nightmares III. Conhecido por Until Dawn e The Dark Pictures Anthology, o estúdio inglês já havia laborado nas versões aprimoradas dos dois primeiros jogos da saga para os consoles PlayStation 5 e Xbox Series, ou seja, não seria seu primeiro contato com esse universo.
Little Nightmares III é protagonizado por Low e Alone, dois amigos que estão presos em um pesadelo e precisam trabalhar conjuntamente para conseguir escapar de Lugar Nenhum. Tal como nos títulos anteriores, não há nenhum tipo de contextualização sobre o que está acontecendo, cabendo ao jogador tirar suas próprias conclusões conforme as situações que presencia. Cada um dos personagens está equipado com uma ferramenta: com seu arco e flecha, Low pode atingir interruptores, cortar cordas e derrubar inimigos voadores, enquanto Alone utiliza sua chave inglesa para quebrar barreiras, manipular máquinas e esmagar oponentes atordoados. A maior parte dos puzzles do game se resume ao uso dessas mecânicas, o que acaba reduzindo os desafios.
O modo campanha é dividido em quatro capítulos: Necrópole, A Fábrica de Doces, Carnevale e O Instituto. Os dois primeiros episódios são muito similares ao que já foi visto anteriormente na franquia, ficando os maiores destaques com os capítulos finais. Além da bela ambientação, em Carnevale estão alguns dos trechos mais tensos do jogo, ao passo que O Instituto chama a atenção pela utilização de um objeto que manipula o ambiente, permitindo avançar por áreas que antes eram inacessíveis. Tanto Carnevale quanto O Instituto mostram que era possível ter uma maior ousadia, o que faz a parte final do título ser muito superior a inicial. A forma com que a história acaba dá a entender que os desdobramentos do final serão explorados em capítulos adicionais, acessíveis por meio de um passe de expansão pago, o que nunca é algo legal.
No decorrer da aventura, ganhamos novas ferramentas que teoricamente serviriam para tornar a jogabilidade mais variada, mas não é bem isso o que acontece na prática. Logo no começo, desbloqueamos a possibilidade de utilizar um guarda-chuva para conseguir subir em estruturas quando há a presença de algum fluxo de ar, além de também poder planar pelo cenário ao saltar de estruturas altas. No entanto, essa mecânica desaparece de forma repentina, ficando o seu uso restrito ao primeiro capítulo. Posteriormente, temos a possibilidade de utilizar uma lanterna, que basicamente serve para iluminar os cenários que vão se tornando cada vez mais escuros, acrescentando pouco ao gameplay.
Desde o seu anúncio, um dos principais destaques de Little Nightmares III é a possibilidade de jogar a campanha no modo cooperativo. O recurso, entretanto, somente está disponível de forma online, não sendo possível experienciar o jogo localmente com outra pessoa, o que é uma pena. Felizmente o título oferece um sistema de passe de amigo, permitindo convidar um segundo jogador para ingressar na aventura sem que ele tenha que adquirir uma cópia do game. Também podemos vivenciar a aventura no modo solo, ocasião em que a inteligência artificial se encarrega de assumir o controle do segundo personagem. Os melhores momentos envolvendo os protagonistas são os breves trechos de combate, ocasião em que os dois agem juntos com suas ferramentas para derrotar os oponentes.

Jogando no modo solo, a inteligência artificial conseguiu cumprir bem seu papel na maior parte do tempo, mas houve duas ocasiões em que meu parceiro não apresentou o comportamento esperado. Em ambos os casos, o personagem deixou de me acompanhar e simplesmente ficou parado em algum ponto do cenário. Utilizar o botão para chamar o companheiro não fez com que ele retomasse os movimentos, o que me obrigou a recarregar o último checkpoint. Tirando isso, não presenciei nenhum outro tipo de falha, bug ou problema de desempenho durante minhas aproximadamente 6 horas de jogatina.
Um pouco desengonçada, a jogabilidade é marcada por uma mistura de trechos de plataforma 3D, resolução de quebra-cabeças, segmentos em que é preciso avançar de forma furtiva e momentos de perseguição, este último sempre marcado por uma boa dose de adrenalina e tensão. Os trechos de perseguição funcionam com base na tentativa e erro: na corrida contra o tempo, uma escolha errada resultará no fracasso, já que não há espaço para efetuar correções. Como nossa única opção é saber exatamente o que precisa ser feito, precisei repetir alguns segmentos diversas vezes até alcançar o objetivo. Um detalhe que também merece ser mencionado é que muitas das vezes a perspectiva da câmera acaba nos enganando, fazendo com que executemos erroneamente os saltos em trechos de plataforma.
Algo que me decepcionou é que há pouca ameaça em grande parcela dos ambientes, além das áreas serem pouco desafiadoras para a exploração. Em parte considerável do tempo apenas nos movemos por cenários vazios, indo de uma área a outra por meio de um buraco na parede. Tal como nos seus antecessores, existem coletáveis escondidos pelos cenários, o que pode aumentar o tempo de jogo para os completacionistas.
Abordando agora os aspectos audiovisuais, deu para perceber que a Supermassive Games conseguiu absorver bem a essência da franquia. Little Nightmares III apresenta cenários extremamente bem trabalhados e detalhados. Aquele ar de estranheza e até mesmo incômodo segue presente, junto com criaturas gigantes que estão dispostas a capturar Low e Alone; a caracterização perturbadora dos antagonistas está mais impressionante do que nunca. A trilha sonora, junto com os sons ambientes, contribui para a construção de uma atmosfera macabra e misteriosa.
Little Nightmares III está disponível para Nintendo Switch, Nintendo Switch 2, PC, PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One e Xbox Series. Esta análise foi feita com base na versão de PC com uma cópia fornecida pela Bandai Namco Brasil.
Especificações do computador utilizado para a análise: Ryzen 7 5700X, RTX 3060 12 GB, 32 GB de memória RAM DDR4 3200Mhz.

Considerações finais
Com Little Nightmares III, a Supermassive Games buscou apostar no seguro, o que não é propriamente ruim, mas quando chegamos na segunda metade do jogo, fica claro que havia margem para mais. Os capítulos iniciais são bastante similares ao que já foi visto nos jogos anteriores, ao passo que os dois episódios finais buscam e conseguem apresentar algo de novo. Embora a essência da série esteja presente, os puzzles simplórios e os ambientes com poucas ameaças são responsáveis por tornar a experiência menos brilhante.
Adotando o padrão de jogabilidade já conhecido, o game se destaca pela atmosfera criada, com ambientes bem construídos e ricos em detalhes, da mesma forma que os antagonistas chamam a atenção pelas aparências nada amigáveis. Podendo ser jogado em modo solo ou cooperativo online, Little Nightmares III não é um jogo ruim, mas também não é o melhor título da franquia.