Análise do jogo Fractured Minds

Fractured Minds rendeu à jovem Emily Mitchell, aos 17 anos, o prêmio Young Game Designer no BAFTA Games Awards 2017. Inspirada na sua luta contra a ansiedade, a desenvolvedora tinha como objetivo criar uma experiência genuína que ajudasse mais pessoas a ter empatia com aqueles que enfrentam algum problema de saúde mental.

Experiências que tentam promover qualquer tipo de inclusão através de jogos merecem ser apreciadas e debatidas, já que os games têm a vantagem de oferecer experiências muito mais intimistas do que qualquer outra mídia audiovisual. Uma indústria tão grande como a dos jogos digitais pode e deve ser palco para discussões envolvendo questões sociais, seja ela qual for. A ansiedade, por exemplo, é algo que vem se tornando cada vez mais comum na nossa sociedade, mas infelizmente ainda não é encarada com a seriedade necessária.

Em 2016, a Vittude disponibilizou no seu site um teste desenvolvido pelo PhD Peter Lovibond, da University of New South Wales (Austrália), para avaliar severidade dos sintomas da depressão, ansiedade e estresse. O questionário foi respondido por mais de meio milhão de brasileiros. Dados coletados entre outubro de 2016 e abril de 2019 revelaram que 86% das pessoas que concluíram o teste viviam com algum tipo de transtorno mental. Desse percentual, 63% apresentavam ansiedade extremamente severa, seguido por depressão extremamente severa (59%) e stress extremamente severo (37%).

Um estudo publicado em 2018 pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou que 9,3% da população do Brasil tinha transtornos de ansiedade, ou seja, cerca de 18,6 milhões de brasileiros convivem com o problema. Diante desses dados, é evidente que temas como esse precisam ser mais debatidos na sociedade.

Voltando a falar de Fractured Minds, o baixo valor do jogo já é um indicativo do que vamos encontrar. O título é extremamente simples e pode ser finalizado em menos de trinta minutos, isso já considerando uma exploração detalhada de todos os ambientes. Com visão em primeira pessoa, o jogador assume o controle de um personagem sem nome e pode interagir com os objetos que estão espalhados pelos cenários. Em termos de jogabilidade, a única ressalva que tenho para fazer é a movimentação esquisita do protagonista: o deslocamento pelas áreas se assemelha mais a um deslize do que a uma troca de passos.

Com exceção dos comandos básicos, que são mostrados em quadros fixados na parede do primeiro nível logo quando levantamos da cama, todo o restante precisa ser descoberto pelo próprio jogador. Os objetivos de cada nível somente são revelados à medida que interagimos com coisas específicas em cada área. Você só descobre que precisa de uma chave para abrir a porta do quarto quando interage pela primeira vez com a porta. Só depois disso é que as chaves começam a brotar pelo local, momento em que o desafio passa a ser encontrar a chave correta. Os quebra-cabeças com baixo grau de complexidade e a localização em português tornam o jogo acessível para basicamente qualquer tipo de pessoa.

Fractured Minds é composto por seis fases e cada uma tenta passar diferentes tipos de sensação para o jogador. Como os cenários são simplórios, mas cheios de simbolismos, as cores utilizadas em cada ambiente e a trilha sonora acabam tendo uma relevância maior. Preste atenção nos mínimos detalhes, como por exemplo os raios durante a festa de aniversário no segundo nível, eles são essenciais para compreender a proposta do título. Enquanto jogava, não presenciei nenhum tipo de falha ou bug.

Lançado em 2017, Fractured Minds está disponível para Nintendo Switch, PlayStation 4, Xbox One, Windows e macOS. Esta análise foi feita com base na versão de Xbox One.

Considerações finais
Na maior parte do tempo, Fractured Minds pode parecer apenas um jogo bizarro: cumprimos tarefas sem saber o porquê, ao mesmo tempo que percebemos a figura de uma espécie de monstro sempre presente, ainda que de forma discreta. A cena final, acompanhada da mensagem em texto, deixa tudo claro, momento em que as coisas passam a fazer sentido para quem não tinha entendido nada ou estava supondo se tratar de outra coisa.

Não espere gráficos elaborados, jogabilidade refinada e um grau elevado de desafio. Fractured Minds foi criado exclusivamente para passar uma mensagem para o jogador, e isso o título consegue fazer muito bem. Apesar de oferecer uma experiência curta, acredito que se trata de um produto honesto, principalmente por se tratar de um jogo com valor bem baixo. Comprando o game, além de ajudar a financiar a carreira de Emily, você também colabora com a instituição de caridade Safe In Our World. Definitivamente é um bom trabalho para alguém com apenas 17 anos.

Nota
★★★☆☆ – 3 – Bom

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Criador e editor do Portal E7, Herbert é advogado, amante de games e séries. Gamertag/ID: "HerbertVFV".
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