Análise da série Fleabag (2ª temporada)

Enquanto a primeira temporada de Fleabag foi adaptada de um show de stand-up da atriz e roteirista inglesa Phoebe Waller-Bridge, o segundo ano da série apresenta um roteiro completamente original. Pensada para ter apenas duas temporadas, BBC e Prime Video fizeram uma certa pressão para que a história ganhasse uma continuação após o sucesso no Emmy, mas até o momento Phoebe segue irredutível. “Vamos nos despedir no auge, não dá para ficar melhor do que isso”, afirmou a criadora da série em uma entrevista.

A segunda temporada inicia-se exatamente 371 dias, 19 horas e 26 minutos após os acontecimentos da temporada de estreia. Toda a família se encontra reunida na casa do Pai (Bill Paterson) para a celebração do seu noivado com a Madrinha/madrasta (Olivia Colman). Durante todo esse lapso temporal, Fleabag (Phoebe Waller-Bridge) não havia visto nem conversado com sua irmã Claire (Sian Clifford). Claire segue casada com o desagradável Martin (Martin Gelman), que nunca perde a oportunidade de querer irritar Fleabag. No encontro familiar, também estava presente o Padre (Andrew Scott), religioso que fará a celebração do casamento do casal. A conexão entre as duas temporadas é feita de forma inteligente durante os primeiros minutos do episódio de estreia, por meio de breves cenas.

A protagonista da atração agora se mostra mais madura e pensa nas consequências de suas ações, o que resulta em menos piadas inconvenientes (o que não significa que a série teve uma diminuição no seu tom cômico). Depois dos tempos ruins, o café de Fleabag finalmente está prosperando. A personagem, nesse pouco mais de um ano, passou por um processo de autodescobrimento e até tentou mudar alguns de seus hábitos, incluindo seus frequentes encontros sexuais. O novo comportamento de Fleabag é um dos pilares da nova temporada, que também tem como temática o amor e os relacionamentos.

Claire finalmente vai se dando conta do marido que tem, principalmente depois do imprevisto enfrentado por ela no jantar de noivado de seu pai. Essa temática amorosa também se estende a Fleabag, que finalmente encontrou um par ideal para compartilhar sua vida, o problema é que ele usa batina. Sim, ela se apaixonou pelo padre! A química entre os dois surgiu durante o jantar de noivado, quando ela o conheceu. Apesar das diferenças nas crenças, os dois acabam se unindo por um sentimento comum. O relacionamento proibido e o entrosamento entre os atores Phoebe Waller-Bridge e Andrew Scott rendem ótimas cenas. A própria música no estilo sacro/religioso, tema recorrente da temporada, faz referência ao envolvimento dos personagens.

A quebra da quarta parede, uma das principais características de Fleabag, desta vez ganhou um pequeno incremento. Nos momentos em que Fleabag está sozinha com o Padre, quando ela se dirige ao público, o religioso percebe tal interação. Ele não consegue saber o que ela falou, mas claramente vê que a personagem deu uma desligada do mundo, ainda que por uma fração de segundos. Estaria o Padre prestes a descobrir um dos segredos da protagonista? Com interações rápidas e cortes precisos, Phoebe mais uma vez mostrou saber fazer muito bem uso desse recurso narrativo. Os quadros caindo da parede e a presença da raposa (uma espécie de vigia do Padre) são outros elementos muito bem inseridos na narrativa.

No fim, Fleabag tem consciência dos seus defeitos e só quer ser uma pessoa feliz. Isolada e sem a presença de amigos, ela desenvolve uma relação mais próxima com a irmã, ajudando-a em momentos de desespero (vide a hilária cena do corte de cabelo em formato de lápis). Ela até ensaia uma rendição com a Madrinha, entregando-a sua escultura roubada (obra que rendeu história nas duas temporadas), mas a personagem sempre consegue nos surpreender. O final, apesar de em parte melancólico, certamente serviu para dar uma revigorada na vida da protagonista.

Considerações finais
O sucesso da segunda temporada nas principais premiações de TV por si só já constata a grande qualidade de Fleabag. Com um roteiro bem construído, a comédia dramática nos entrega mais uma excelente temporada, que consegue ser engraçada com cenas relativamente simples. As caras e bocas de Phoebe e a quebra da quarta parede são novamente elementos marcantes e contribuem para a construção do humor. A série conta novamente com seis episódios, todos muito bem editados e dirigidos.

Se antes o destaque ficava praticamente por conta da protagonista, a adição de Andrew Scott deu uma balanceada na atração. Dando vida a um padre completamente fora dos padrões (que escuta música alta na igreja durante a madrugada, dentre outras coisas…), Andrew encaixou-se perfeitamente em seu personagem e deu novos ares para a série. As cenas envolvendo os dois atores sempre são ótimas e imprevisíveis. Confesso que não acharia ruim se Fleabag retornasse para uma terceira temporada, mas prefiro que ela seja encerrada no topo do que entregar novos episódios abaixo das expectativas.

Nota
★★★★★ – 5 – Excelente

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└ Análise da série Fleabag (1ª temporada)

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Criador e editor do Portal E7, Herbert é advogado, amante de games e séries. Gamertag/ID: "HerbertVFV".
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