Análise da série Better Call Saul (5ª temporada)

Atenção! O texto a seguir contém spoilers da quarta temporada de Better Call Saul.

Criada por Vince Gilligan e Peter Gould, as quatro primeiras temporadas de Better Call Saul preocuparam-se em mostrar o que levou Jimmy McGill (Bob Odenkirk) a mudar o seu nome profissional para Saul Goodman. No quinto ano da série acompanhamos as primeiras ações do protagonista após ele ter decidido alterar o seu nome para a prática jurídica. Como de costume, a temporada inicia com um flashforward em preto e branco retratando a vida de Saul após o fim de Breaking Bad. Se no começo da temporada passada o agora Gene Takavic, gerente do Cinnabon, passou mal e teve que ser socorrido, desta vez ele foi reconhecido por um ex-morador de Albuquerque, que por sinal é o mesmo motorista de táxi que o pegou na saída do hospital. Isso leva Jimmy a contatar Ed Galbraith (Robert Forster), responsável por sua nova identidade, mas ele próprio resolve dar um jeito nas coisas. As consequências de tudo isso somente serão reveladas na sexta e última temporada da série.

Voltando ao presente, a trama retoma os eventos do final da quarta temporada, quando Jimmy comunica a Kim (Rhea Seehorn), no fórum, que mudaria seu nome profissional para Saul Goodman, o mesmo que ele utilizou no período em que ficou proibido de exercer a advocacia. Como ainda possuía alguns telefones descartáveis, Jimmy decide colocá-los no mercado já com o seu número configurado na discagem rápida. Junto com os celulares, o advogado oferece uma promoção temporária com 50% de desconto nos honorários para crimes não violentos, levando-o a rapidamente conseguir uma quantidade razoável de novos clientes. Como bem sabemos, Jimmy é um cara inteligente e não poupará seus esforços no desempenho da advocacia. A prova disso é a situação que o advogado cria no segundo episódio para conseguir uma série de acordos com a promotoria.

Desde o começo, Kim demonstra não estar satisfeita com as novas atitudes do namorado. Apesar de já ter feito alguns golpes com Jimmy no passado, a advogada não gosta de alimentar esse lado da sua vida. Essa dualidade fica bem evidente no primeiro capítulo, quando ela se recusa a usar a ideia de Jimmy para forçar um cliente a aceitar um acordo mais vantajoso, mas posteriormente se rende àquilo que foi por ele pensado. Logo na sequência, Kim aparece pensativa nas escadarias do fórum, um claro indicativo de que ela e Jimmy não são nem um pouco parecidos no exercício da advocacia. O ápice do embate entre os dois personagens acontece no sexto episódio, quando eles estão envolvidos em um mesmo caso, mas em lados opostos. Na ocasião, a atitude final da advogada acabou sendo surpreendente, assim como os reflexos que isso causou no capítulo subsequente, quando ambos formalizam sua união; definitivamente é um casal que acaba se acertando nos momentos mais improváveis. A partir desse ponto, Kim passa a oferecer apoio para Jimmy, ainda que ele não seja completamente sincero com ela (e ela nitidamente sabe disso).

Kim é a personagem de maior destaque na quinta temporada de Better Call Saul. Ao longo dos dez episódios, a advogada passa por uma grande transformação na sua vida pessoal e profissional. Kim tinha tudo para alavancar sua carreira com o caso do Banco Mesa Verde, mas ela decide abandonar tudo para trabalhar sozinha e com foco no assistencialismo, algo que sempre gostou, apesar do baixo retorno financeiro. Seu momento mais marcante no quinto ano acontece no nono episódio, quando ela toma uma atitude surpreendente para defender Jimmy. Na season finale, a personagem novamente adota uma postura que deixa até mesmo Jimmy surpreso. Detalhe: a última participação de Kim na temporada é uma releitura da cena final da quarta temporada, algo que pode passar despercebido por muitos – simplesmente incrível!

Na subtrama envolvendo o mercado de drogas, as disputas entre a família Salamanca, liderada nos EUA por Lalo (Tony Dalton), e Gus (Giancarlo Esposito) vão se tornando cada vez mais intensas. No meio desse embate, quem passa o aperto maior é Nacho (Michael Mando), que precisa repassar informações para o dono do Los Pollos Hermanos sem que os Salamanca descubram que há um infiltrado nas suas operações. Como consequência, Gus é obrigado a destruir uma das filiais de sua rede de lanchonetes. Ainda sobre Gus, os episódios “Namaste” e “JMM” mostraram o quanto o personagem é metódico, ainda que em momentos não tão favoráveis a ele. Esse contexto todo é o cenário perfeito para a inserção de um dos personagens mais marcantes de Breaking Bad, Hank Schrader (Dean Norris). Ao lado de seu parceiro Steven Gomez (Steven Michael Quezada), Hank aparece mais uma vez combatendo o tráfico de drogas em Albuquerque. Outro nome de BrBa que também dá as caras na temporada, ainda que de forma bem mais discreta, é Lydia (Laura Fraser), executiva da Madrigal.

Mike (Jonathan Banks) inicia o quinto ano de uma forma estranha: sem paciência com a neta, ele acaba se envolvendo em brigas de rua com grupos de jovens. É preciso que Gus o envie para um lugar isolado no México para o ex-policial se recompor. Após isso, o implacável Mike volta à ação e desempenha papéis importantes, principalmente nos episódios finais. No oitavo episódio, ele e Jimmy enfrentam uma situação inusitada que gera consequências para os dois capítulos subsequentes e certamente implicará nos eventos da sexta temporada. Por ser dirigido por Vince Gilligan, o episódio em questão carrega consigo, do início ao fim, uma forte essência de Breaking Bad.

Considerações finais
Em sua primeira temporada como Saul Goodman, Jimmy entra na maior fria de sua vida até então ao se envolver novamente com os Salamanca. Agora “amigo do cartel”, o advogado é obrigado a fazer certos tipos de serviços que o faz questionar se todo o dinheiro que tem recebido realmente vale a pena. O que ele mais temia acabou acontecendo e Kim, ainda que de forma indireta, agora também está envolvida nos seus problemas. A série tem um bom desenvolvimento no enredo e entrega os seus melhores episódios na reta final. O desfecho aberto deixa vários questionamentos para serem resolvidos na sexta temporada.

Embora todo o elenco desempenhe excelentes atuações, gostaria de destacar o trabalho de dois atores: Rhea Seehorn e de Tony Dalton. No decorrer do quinto ano, ambos conseguem dar um novo tom para a história e tornam os eventos relacionados aos seus personagens extremamente envolventes, vide o episódio final. De resto, a série da AMC, produzida pela Sony Pictures Television, entrega para o público mais uma vez uma qualidade técnica impecável, com belíssimos ângulos de câmeras, cenas muito bonitas e que valorizam bem os seus cenários. O duro agora vai ser esperar um ano ou mais para saber qual será a conclusão de toda essa história.

Nota
★★★★★ – 5 – Excelente

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Criador e editor do Portal E7, Herbert é advogado, amante de games e séries. Gamertag/ID: "HerbertVFV".
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