Análise do jogo Red Dead Redemption 2
Lançado em 2010, Red Dead Redemption foi um dos melhores games que joguei no Xbox 360. Quando a Rockstar anunciou em 2016 o lançamento de um novo jogo da franquia, minhas expectativas eram as maiores possíveis. Agora que pude finalmente colocar as mãos no título, posso adiantar que ele segue o alto padrão de qualidade visto nos jogos anteriores do estúdio. Não é para menos, foram longos oito anos de desenvolvimento!
Apesar do nome aparentemente indicar que se trata de uma sequência, Red Dead Redemption 2 é na verdade uma prequela do seu antecessor. Ambientado em 1899, no velho oeste estadunidense, a nova aventura é protagonizada por Arthur Morgan, um notório membro da gangue Van der Linde, liderada por Dutch e composta por outros nomes já conhecidos, como John Marston (protagonista de Red Dead Redemption), Javier Escuella e Bill Williamson.
O game inicia no meio de uma nevasca, quando a gangue de Dutch estava fugindo dos Pinkerton depois de um roubo mal executado na cidade de Blackwater. As condições climáticas não permitiam que eles fossem muito adiante, então o grupo teve que encontrar um local para servir de abrigo provisório. Enquanto Dutch tentava tranquilizar os integrantes da gangue, Jhon e Micah estavam do lado de fora fazendo o reconhecimento da região. O gameplay começa efetivamente quando Arthur sai junto com Dutch para tentar localizar seus companheiros e ver o que eles tinham descoberto.
Logo que encontram Micah, ele relata ter avistado um rancho onde estava acontecendo uma festa. Ao se dirigirem até a propriedade, uma troca de tiros acontece e o grupo descobre que as pessoas que estavam no local eram membros de uma gangue rival, liderada por Colm O’Driscoll. Além de fazer uma limpa na área e coletar algumas informações importantes, eles resgatam Sadie Adler, que havia se escondido no porão logo que sua propriedade foi invadida pelos O’Driscoll. Mais adiante, Sadie desempenha um papel importante no game, guardando poucas semelhanças com a mulher assustada que foi encontrada por Micah, Dutch e Arthur. Passados dois dias sem que John Marston aparecesse, Arthur e Javier saem para tentar encontrá-lo, momento em que descobrimos a origem da cicatriz no rosto de Marston.
Visando fugir para o sul, Dutch planeja arrumar dinheiro utilizando um plano idealizado pelos O’Driscoll: assaltar um trem pertencente ao magnata Leviticus Cornwall. O começo do jogo, além de servir como um tutorial de gameplay, expõe para o jogador todos os principais antagonistas de Red Dead Redemption 2. Com a era dos pistoleiros e foras da lei chegando ao fim, a gangue enfrentará muitos problemas para sobreviver, a começar por arranjar locais seguros para se instalar. Como Dutch é uma pessoa que gosta de orquestrar planos que chamam bastante atenção, o grupo acaba tendo que lidar constantemente com as ofensivas dos inimigos e das autoridades do governo.
Mais do que saber os comandos básicos, devemos estar atentos aos indicadores que estão localizados acima do minimapa: eles mostram os níveis de vida e fôlego de Arthur e de seu cavalo, além de exibir o tempo disponível para uso da habilidade olhos da morte. Ao ativar os olhos da morte, durante uma fração de segundos tudo passa a acontecer em câmera lenta, permitindo que os pontos vitais dos inimigos sejam facilmente atingidos. Todos esses indicadores podem ser restaurados consumindo itens comestíveis ou dormindo na cama do protagonista no acampamento. Abrindo a bolsa, é possível conferir para que serve cada alimento e tônico e qual o seu efeito imediato na vida, no fôlego e nos olhos da morte. Essas três características subirão de nível conforme progredimos na história e exploramos o mundo. Por isso, é primordial que cuidemos do cavalo: quanto maior for o vínculo com ele, melhores serão as capacidades de vida e fôlego do animal, algo extremamente útil durante as perseguições e fugas. É bom também prestar atenção no tipo de roupa utilizada pelo personagem em cada região: se Arthur for até uma área com neve vestindo uma roupa ideal para andar no sol, a vida do personagem será drenada aos poucos devido ao frio que ele irá sentir; o mesmo acontece quando ele utiliza roupas de frio em áreas de calor. Por isso, é sempre bom guardar na sela do cavalo um tipo de roupa diferente daquele que está sendo utilizado pelo personagem.
Mesmo não sendo o líder da gangue, é Arthur quem gerencia o status do acampamento, cujas melhorias são feitas com base no patrimônio disponível, constituído por doações. Acessando o registro, é possível realizar melhorias nas áreas de remédio, provisões, munições e armas e acomodação. Sempre que o protagonista está no acampamento, o jogo exibirá no canto superior direito como estão os recursos do grupo. Realizar doações e executar tarefas no acampamento farão a barra de honra de Morgan subir. Se Arthur será uma pessoa boa ou ruim quem decide é o jogador – isso impactará diretamente na forma com que ele é tratado pelas pessoas. Um detalhe interessante é que na reta final do game, uma das missões secundárias somente é liberada se a barra de honra do personagem for alta (missão essa necessária para desbloquear uma das conquistas do jogo). Falando em missões, as secundarias são ótimas e bem variadas, cada uma contando com suas próprias características.
Assim como aconteceu com a versão de Grand Theft Auto V para Xbox One, PC e PlayStation 4, Red Dead Redemption 2 pode ser jogado do início ao fim nas visões de primeira ou terceira pessoa. É possível fazer a alternância desses dois tipos de câmera em qualquer momento do gameplay. Enquanto caminha pelo mapa ou se desloca de um ponto para outro durante as missões, podemos desfrutar de uma câmera cinematográfica que entrega imagens belíssimas do mundo do game. Há ainda um modo de foto com vários filtros disponíveis para serem aplicados às capturas.
Durante minha jogatina, o que mais me chamou a atenção foi o quão vivo é o mundo do game; o único jogo que me proporcionou uma experiência semelhante foi The Witcher 3: Wild Hunt. Sempre que cavalguei pelas estradas, me deparei com animais e outros seres humanos agindo naturalmente. O título também conta com uma grande variedade de encontros aleatórios, oportunidade em que as pessoas nos pedem os mais variados tipos de favores. O detalhe é que muitas das vezes uma simples solicitação de ajuda pode ser uma armadilha, então é bom sempre ficar atento. Caso você cometa muitos crimes em um Estado e haja um valor pela sua cabeça, prepare-se para ser perseguido por caçadores de recompensas – é possível evitar esse tipo de encontro indesejado realizando o pagamento da recompensa em qualquer estação de trem.
Como se trata de um prelúdio, já imaginava que certas coisas aconteceriam no decorrer da narrativa, mas a forma com que a Rockstar moldou o enredo me surpreendeu. Nunca fui capaz de antever que um fato X seria retratado em uma missão Y. Igual aconteceu com John Marston, a jornada de redenção de Arthur Morgan é o ponto mais interessante do game: motivados por razões distintas, cada um tenta dar um novo rumo para sua vida em meio às situações que lhes são impostas. A diferença é que em Red Dead Redemption 2 o início da redenção do protagonista demora mais a acontecer, enquanto no primeiro game ela é apresentada logo no começo.
A direção de arte de Red Dead Redemption 2 é surpreendente: se trata de um legítimo jogo cinematográfico, com belíssimas paisagens e uma excelente trilha sonora. Percebe-se que cada cena das missões foi feita com bastante cuidado, visando efetivamente impressionar o jogador. O trabalho de ambientação de época e de construção de cenários é belíssimo, além de o título estar extremamente bem otimizado. O fato da barba de Arthur crescer de forma natural conforme o transcurso do tempo também merece ser mencionado. Não enfrentei sequer um problema técnico durante a minha passagem pela campanha. Infelizmente não posso dizer o mesmo do modo online, onde sofri com constantes problemas de conexão com o servidor do jogo, o que praticamente impossibilitou que eu explorasse a grande variedade de modos disponíveis em Red Dead Online. É inadmissível pensar que quase dois anos após o seu lançamento, uma empresa do porte da Rockstar ofereça uma experiência online tão ruim para seus jogadores.
Para finalizar, gostaria de destacar dois elementos que me chamaram a atenção. Junto com os seus itens, Arthur está sempre carregando um diário, onde faz ilustrações e anotações dos momentos por ele presenciados. É muito legal ler os relatos pessoais do protagonista sobre as mais diversas circunstâncias, o que serve como um bom complemento para a história. Outro ponto interessante é que o jogo não perdeu a oportunidade de retratar problemas sociais, como a tuberculose e o tráfico de escravos (detalhe que a escravidão foi abolida nos EUA, em âmbito federal, em 1865, 34 anos antes do período em que o jogo é ambientado).
Lançado originalmente em 2018, Red Dead Redemption 2 está disponível para PlayStation 4, Xbox One e Windows. Esta análise foi feita com base na versão de Xbox One.
Considerações finais
Seguindo os passos de seu predecessor, Red Dead Redemption 2 se consagra como um dos jogos mais impressionantes da sua geração. A obra da Rockstar entrega para o jogador uma narrativa recheada de surpresas, excelente jogabilidade, visual exuberante e uma trilha sonora fenomenal. São muitos adjetivos, não é mesmo? De fato, é um jogo acima da média, cujo resultado final reflete os longos anos em que o título ficou em desenvolvimento; percebe-se que houve um cuidado minucioso ao criar cada pequeno detalhe.
O loading demorado ao iniciar o game acaba sendo compensado com um mundo riquíssimo para ser explorado: é uma espera que vale a pena. Da mesma forma que aconteceu com John, Arthur Morgan conseguiu deixar o seu nome marcado na franquia de velho oeste mais famosa dos games. O protagonista certamente conquistará rapidamente o jogador com seu carisma e sua jornada de redenção, ainda que ela demore um pouco para começar. É realmente uma pena que a experiência multiplayer seja comprometida em razão dos servidores instáveis, gerando desconexões constantes.
Nota
★★★★★ – 5 – Excelente
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