Análise do jogo The Precinct

Games de mundo aberto ambientados em áreas urbanas em sua grande maioria colocam o jogador na pele de algum delinquente que reiteradamente comete delitos pela cidade. O exemplo mais clássico disso é Grand Theft Auto, uma das franquias de games mais bem-sucedidas da história e que foi evoluindo ao longo dos anos junto com o surgimento de novos recursos tecnológicos. Com The Precinct, a Fallen Tree Games busca explorar o outro lado dessa temática, nos dando a tarefa de coibir os crimes e impedir a impunidade.

Ambientado em 1983 na cidade fictícia de Averno, no game assumimos o controle de Nick Cordell Jr., um oficial novato que acabou de deixar a academia. Nick é filho de um policial bastante conhecido e que anos atrás foi morto em uma situação que parece não ter sido totalmente esclarecida. Embora carregue o mesmo sobrenome de seu genitor, ele precisará construir o seu próprio caminho no departamento de polícia.

Nos primeiros dias de trabalho o protagonista aprende na prática o protocolo a ser adotado em situações diversas, como infrações de trânsito, crimes de rua, troca de tiros, perseguições de carro e prestar suporte aéreo no helicóptero para os colegas de profissão. Durante praticamente todo o game estamos acompanhados de Kelly, um oficial já em fim de carreira e com problemas na coluna.

Superada a parte inicial, no começo de cada jornada de trabalho podemos escolher qual tarefa iremos desempenhar no turno. O próximo passo é ir até a área designada para realizar a patrulha, reprimir os crimes com os quais nos deparamos e responder aos chamados vindos da central quando possível. Ao final, recebemos pontos de experiência de acordo com nossa conduta: se durante as abordagens todos os protocolos forem seguidos, maior será a pontuação, no entanto, se algum delinquente escapar ou agirmos de forma incorreta, haverá uma penalização. No menu do game há um manual que explica todas as diretrizes que devem ser adotadas em cada tipo de crime. Acumulando experiência subimos de nível e liberamos novos tipos de turnos, armas e veículos, além de ganhar pontos para desbloquear habilidades.

O jogo realmente brilha ao simular o labor policial. Interagindo com os NPCs, podemos solicitar que a central verifique se há algum antecedente criminal ou mandado de prisão em aberto, realizar revistas à procura de itens, usar o bafômetro caso o motorista cheire a álcool e pedir ao condutor para abrir o porta-malas do veículo. Finalizada a inspeção, é hora de liberar o sujeito ou adicionar delitos para aplicar uma multa ou realizar a prisão. Logicamente não são todas as pessoas que irão facilitar o seu trabalho, então fique atento: fugir da polícia, por si só, já configura o crime de evasão de autoridade.

Embora tenha todo o charme de uma trama policial dos anos 1980, The Precinct decepciona no desenvolvimento de sua história. Enquanto realizamos as tarefas do dia a dia, coletamos evidências para tentar derrubar duas das principais gangues da cidade, os Quebra-queixos e a Serpente Escarlate. Reunindo um certo número de provas, participamos de operações que visam capturar os principais líderes dessas organizações. Os interrogatórios após as prisões costumam resultar em diálogos simples demais, com a pessoa detida revelando facilmente informações sobre os seus comparsas. Os agentes da polícia sequer precisam fazer esforço na obtenção do nome do próximo alvo, o que chega a ser decepcionante.

Felizmente nem tudo é ruim no enredo, existem dois pontos em que The Precinct consegue se destacar. O primeiro deles acontece quando o policial Ferrera solicita a ajuda do protagonista na investigação de uma série de assassinatos teatrais que acontecem na cidade. O segundo acontece já na reta final, quando Cordell decide ir atrás de informações para tentar entender o que está por trás da morte de seu pai. Se esse maior cuidado na escrita tivesse sido seguido nas tramas envolvendo as duas gangues, teríamos uma narrativa mais satisfatória.

Adotando uma visão isométrica não fixa, o que significa que conseguimos girar a câmera em 360 graus, a jogabilidade de The Precinct também conta com aspectos positivos e negativos. As ações a pé e pilotando o helicóptero funcionam bem, mas quando falamos da dirigibilidade dos veículos e dos tiroteios as coisas começam a desandar. A partir do momento em que atingimos alta velocidade com os carros, os controles ficam muito instáveis, dificultando a realização de curvas e o desvio de obstáculos e veículos que estão pelo caminho; isso fica evidente nas perseguições e disputas de corridas. Mirar nos inimigos durante as trocas de tiros também costuma ser uma tarefa não muito simples, todavia é algo que pode ser mitigado definindo a opção de mira automática como forte nas configurações.

Falando da parte audiovisual, o título da Fallen Tree Games apresenta gráficos bonitos e detalhados. A beleza de Averno fica mais evidente à noite, quando a iluminação pública e as placas de neon aparecem e refletem nas poças de água presentes no ambiente. Apesar de não ser muito grande, a cidade é bem construída e conta com a presença de clima dinâmico. Já nos momentos de diálogo, temos uma imagem estática que simplesmente destaca o personagem que está falando, algo extremamente básico e que contrasta com os ambientes de The Precinct. Os elementos sonoros não decepcionam e a trilha sonora se mostra agradável e combina com o clima do game sempre que aparece. O título tem uma boa dublagem, mas notei a presença de algumas falas estouradas no começo do jogo.

Com relação ao desempenho, tive alguns problemas. Em minhas 20 horas de jogatina, The Precinct fechou sozinho cinco vezes, algo que considero excessivo. Isso, no entanto, não foi o pior que me aconteceu: quando estava com aproximadamente 7 horas de gameplay, o jogo simplesmente reiniciou o meu progresso. Como não há no menu a possibilidade de carregar um save anterior, fui obrigado a recomeçar do zero temendo que a falha voltasse a acontecer, o que felizmente não ocorreu. Enquanto o título rodou normalmente, não notei quedas na taxa de quadros e presenciei apenas alguns bugs, mas nada que afetasse a experiência como os fatos anteriormente mencionados.

The Precinct está disponível para PC, PlayStation 5 e Xbox Series. Esta análise foi feita com base na versão de Xbox Series X com uma cópia fornecida pela Kwalee.

Considerações finais
Ao iniciar The Precinct, um dos meus maiores receios era que o game acabasse se tornando muito repetitivo, porém os desenvolvedores tiveram consciência que o jogo não poderia se estender muito. Embora estejamos presos a um ciclo de execução dos mesmos tipos de ações, os diferentes turnos acabam dando uma variada, ainda que mínima, no gameplay. A progressão rápida e a trama que não se arrasta além do necessário contribuem para o título não se tornar maçante.

Por outro lado, parcela da história pode ser frustrante para os amantes de uma boa trama policial, com diálogos pouco inspiradores, principalmente nos interrogatórios. A direção instável em altas velocidades e a mira desajeitada até poderiam ser relevadas se o enredo fosse verdadeiramente vibrante, mas não é o caso. Além disso, enfrentei problemas técnicos que comprometeram a minha experiência. Mesmo que não atinja todas as expectativas, The Precinct se destaca quando se fala do trabalho de abordagem policial.

★★★☆☆Bom
Criador e editor do Portal E7, Herbert é advogado, amante de games e séries. Gamertag/ID: "HerbertVFV".
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