Análise da série O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder (1ª temporada)

Depois do enorme sucesso comercial das duas trilogias de filmes dirigidas por Peter Jackson, em 2017 a Amazon adquiriu os direitos televisivos de O Senhor dos Anéis pela bagatela de 250 milhões de dólares. Com um alto orçamento envolvido, a série gerou muita expectativa até finalmente ter a sua primeira temporada disponibilizada no Prime Video em 2022. Ambientada milhares de anos antes dos eventos de O Hobbit e O Senhor dos Anéis, a história inicia abordando a participação dos elfos na guerra que desencadeou a derrota de Morgoth, o Lorde das Trevas. Após esses acontecimentos, os Orcs, servos de Morgoth, se espalharam pela Terra-média sob o comando de um feiticeiro conhecido como Sauron.
Ciente da ameaça crescente, o irmão da guerreira élfica Galadriel (Morfydd Clark) jurou encontrar e derrotar Sauron, mas o feiticeiro acabou matando-o primeiro. Com isso, ela decidiu assumir tal missão e passou séculos tentando encontrar Sauron, mas com o passar dos anos havia cada vez menos sinais dele. Isso fez com que muitos elfos acreditassem que a ameaça tinha acabado, mas ao encontrar sinais do feiticeiro no topo de uma montanha gelada, Galadriel sabia que precisava continuar sua jornada. Por esse motivo, mesmo tendo recebido do Alto-Rei Gil-galad (Benjamin Walker) a honra de poder viver por toda a eternidade no Reino Abençoado, as Terras Imortais de Valinor, ela resolve seguir com seu propósito.
Em sua jornada solo, o caminho de Galadriel se cruza com o de Halbrand (Charlie Vickers), um misterioso homem das Terras do Sul. Enquanto enfrentavam uma situação de perigo, os dois são resgatados e levados até a cidade de Númenor, localizada em uma ilha. Os homens que vivem em Númenor já foram aliados dos Elfos, no entanto, a relação entre os dois povos foi se deteriorando com o passar dos anos. Isso se torna um obstáculo para os planos que Galadriel tem de retornar à Terra-média e seguir sua busca por Sauron, mas o tempo que ela fica na ilha acaba sendo útil para descobrirmos detalhes sobre o passado de Halbrand.

Além do arco da guerreira élfica, que é o que mais chama a atenção, a narrativa de Os Anéis de Poder também abre espaço para explorar outros habitantes da Terra-média. Os Pés-Peludos, por exemplo, são um povo seminômade extremamente habilidoso em se esconder. Bastante curiosa, uma de seus integrantes, Nori (Markella Kavenagh), se depara com um estranho (Daniel Weyman) de grande estatura que havia caído do céu. Embora o estranho tenha dificuldades em se comunicar, Nori não poupa esforços para ajudá-lo, e ele acaba retribuindo em momentos em que os Pés-Peludos enfrentam problemas. Estando em busca de algumas estrelas, o estranho possui habilidades especiais, mas claramente não consegue ter um domínio sobre seus poderes. Nessa parte da narrativa, temos muitas perguntas e poucas respostas na primeira temporada.
Abaixo das Montanhas Sombrias está localizado o reino subterrâneo dos anões, um lugar peculiar e que abriga um metal especial que passa a ter grande importância no decorrer do enredo. As histórias dos anões e dos elfos têm uma ligação muito forte, sendo principalmente representada pelo príncipe Durin (Owain Arthur), filho do rei, e o meio-elfo Elrond (Roberto Aramayo), que é um amigo próximo de Galadriel. Há, porém, um ponto a ser considerado: o pai de Durin é alguém difícil de se lidar, o que muitas das vezes dificulta qualquer tipo de negociação. Já nas Terras do Sul, um grupo de humanos, cujos ancestrais serviram Morgoth, são vigiados por elfos. Nessa subtrama acompanhamos o relacionamento do elfo Arondir (Ismael Cruz Córdova) com a curandeira Bronwyn (Nazanin Boniadi), o fato do filho de Bronwyn encontrar uma espada quebrada com a marca de Sauron e os ataques dos orcs, liderados por Adar (Sam Hazeldine), na região. Nesses dois arcos temos acontecimentos mais interessantes e que parecem ter uma maior proximidade com a temática principal.
Como deu para perceber, a série tenta ao máximo explorar a Terra-média e seus habitantes, mas falha no ritmo em que apresenta os acontecimentos ao público. Contando com oito episódios com mais de 1 hora de duração cada, o enredo na maior parte do tempo é monótono e apresenta um desenvolvimento lento. Até há boas ideias, mas a forma com que tudo é conduzido tira parcela do brilho da produção. Se a ideia era apresentar o rico universo da série, sinto que a equipe de roteiristas pecou pelo excesso. Apesar desse problema, gostei bastante dos acontecimentos envolvendo Galadriel.

Considerações finais
É perceptível que a Amazon investiu bastante em O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder. A atração conta com boas atuações, uma ambientação belíssima, figurinos bem trabalhados, bons efeitos especiais e uma ótima caracterização de personagens. Na parte técnica, temos praticamente tudo o que se espera de uma série de fantasia, o grande porém é a forma com que a narrativa é explorada ao longo da temporada.
Embora pareça que alguns arcos não andem para lugar algum, o enredo em si não é de todo ruim e durante boa parte dos capítulos Os Anéis de Poder consegue alimentar o mistério sobre a figura de Sauron: era nítido que ele estava agindo, mas qual personagem representava o feiticeiro? Para uma série que teve um desenvolvimento lento, naquele que talvez fosse o evento mais importante da temporada (a revelação de quem é Sauron), as coisas caminham até rápido demais. Mesmo que essas inconsistências de ritmo prejudiquem a atração, quando olhamos para a série como um todo, o saldo ainda é positivo.