Análise do filme O Irlandês
Baseado no livro O Irlandês: Os Crimes de Frank Sheeran a Serviço da Máfia, escrito pelo ex-investigador estadunidense Charles Brandt, O Irlandês é o mais novo longa-metragem dirigido pelo cineasta Martin Scorsese, responsável por O Lobo de Wall Street, A Ilha do Medo, Gangues de Nova Iorque, Os Bons Companheiros, Taxi Driver e outras obras de sucesso.
O filme é centrado em Frank Sheeran (Robert de Niro), também conhecido como irlandês, um ex-veterano de guerra que passou a ganhar a vida transportando carne em um caminhão. Quando Frank desvia parte da carga para um gangster, ele sofre um processo judicial movido pela empresa para qual prestava serviços. Havia esperanças que ele revelaria algum nome no tribunal, o que acabou não se concretizando. Tendo sua defesa patrocinada pelo advogado do sindicato, Bill Bufalino (Ray Romano), Frank foi inocentado e ainda manchou o nome da parte adversária perante o juiz que conduziu o caso. Durante as comemorações com Bill em um bar, ele conhece Russell Bufalino (Joe Pesci), um importante e respeitado mafioso da região. Coincidentemente os dois já haviam se encontrado antes, quando o caminhão de Frank apresentou problemas durante uma viagem.
Frank então começa a trabalhar para Russell e suas famílias se tornam muito próximas, ao ponto do mafioso se tornar padrinho de uma de suas filhas. É Russell quem apresenta Frank para o líder sindical Jimmy Hoffa (Al Pacino), uma das pessoas mais populares dos Estados Unidos naquela época. Quando as grandes empresas e o governo começam a querer atacar o sindicato dos caminhoneiros, Jimmy contrata os serviços de Frank. Ambos acabam se dando muito bem, o que faz com que Jimmy também se torne uma pessoa próxima de Frank e sua família. Com a eleição de John Fitzgerald Kennedy nos Estados Unidos, Russell e Jimmy passam a ter opiniões um pouco conflitantes sobre o governo do novo presidente. Este foi apenas o estopim inicial para que uma rivalidade entre eles acabasse surgindo anos depois.
A história de O Irlandês é contada em três linhas temporais distintas. No presente, vemos Frank em um asilo comentando os acontecimentos do seu passado. As outras duas linhas mostram a ascensão do personagem no mundo da máfia e uma viagem de carro que ele realiza com Russell, junto com suas esposas, para o casamento da filha de Bill. O enredo é primoroso, bem elaborado e cheio de mistérios, algo típico de filmes de máfia. Não há nenhuma identificação na tela do ano em que a história é contada, acompanhamos a evolução e o passar dos anos com base na fisionomia dos personagens e nos acontecimentos retratados pelo longa. As únicas informações em texto são o ano e a forma como ocorreram as mortes dos personagens secundários ligados à máfia. Esse pequeno detalhe, que a princípio pode parecer sutil, se encaixa completamente com o desfecho do filme.
O elenco dispensa apresentações. Esta foi a nona vez que Robert de Niro trabalhou junto com o diretor Scorsese. Joe Pesci, que até então havia gravado apenas dois filmes no século XXI, largou sua “aposentadoria” de Hollywood para fazer sua quarta colaboração com o cineasta. Al Pacino, outro renomado ator, interpreta aquele que pode ser considerado o personagem mais ousado e destemido de toda a história, alguém que não consegue ter real noção das consequências que suas ações podem lhe render. Harvey Keitel, Anna Paquin, Lucy Gallina e Jesse Plemons, mesmo tendo pequenas participações, também se destacam em cena.
Completando o conjunto da obra, temos um excelente trabalho de caracterização de época, que vai desde os cenários e figurinos até estudos históricos do período em que a película é ambientada. A trilha sonora é muito boa e casa perfeitamente com a produção. O uso de computação gráfica para rejuvenescimento dos atores foi muito criticado por algumas pessoas, mas não foi algo que me incomodou. Claro, há limitações: apesar de serem retratados mais novos, as movimentações dos corpos dos personagens ainda são de pessoas idosas. Se não fosse o uso da tecnologia, o filme não poderia ser produzido da forma com que foi pensado por Scorsese.
Considerações finais
 Confesso que fiquei com preguiça de ver O Irlandês, afinal, são três horas e trinta minutos de duração. No entanto, a experiência proporcionada pelo filme da Netflix recompensa o espectador, tornando-se algo prazeroso ao final. Embora não haja pressa em desenvolver a história, ela é muito bem construída e não causa momentos de tédio (algo difícil de se fazer, considerando a duração do longa). O uso das linhas temporais contribui muito para não tornar a produção monótona.
A violência, apesar de presente, não é o ponto central de O Irlandês. A temática reside em uma reflexão sobre a melancolia e o afastamento familiar de Frank em razão de suas escolhas ao longo da vida. Enquanto ele se dedicava a fazer serviços para outras pessoas, a relação com suas filhas, principalmente a mais nova, nunca foi bem desenvolvida. Os laços construídos por Frank no passado culminaram com estado presente do personagem.
Nota
 ★★★★★ – 5 – Excelente
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