Análise da série The Last of Us (1ª temporada)

The Last of Us inicia a sua trajetória na TV nos apresentando uma curiosa entrevista de dois cientistas em um talk show no ano de 1968. A conversa gira em torno de uma pandemia, ocasião em que o Dr. Newman (John Hannah) afirma que os vírus nos deixam doentes, mas sua maior preocupação são os fungos, já que existem espécies que conseguem dominar as mentes dos insetos e transformá-los em marionetes. Embora o Cordyceps não fosse capaz de infectar os humanos, o cientista sugere que esse cenário poderia ser alterado caso houvesse uma evolução, citando como exemplo um aumento na temperatura do planeta. A fala do Dr. Newman é praticamente uma previsão do que aconteceria no futuro e uma boa forma de nos introduzir ao universo da série.

Passamos então para o dia 26 de setembro de 2003. Joel (Pedro Pascal) está completando 36 anos e toma um café da manhã bem descontraído junto com sua filha, Sarah (Nico Parker), e seu irmão, Tommy (Gabriel Luna). Ao longo do dia, movimentações estranhas de carros da polícia e aviões caças indicavam que as coisas não estavam normais. Depois de chegar do serviço e passar um breve instante com a filha, Joel se vê obrigado a ir até a delegacia para pagar a fiança de Tommy, que havia sido preso por se envolver em uma confusão de bar. Nesse momento, a situação já estava bem complicada e o perigo rondava a residência deles. Sarah só não foi atacada pela vizinha que morava ao lado porque Joel e Tommy chegaram a tempo de salvá-la. Os três até tentam fugir, mas as coisas infelizmente não terminam bem.

Vinte anos depois, Joel agora vive em uma zona de quarentena em Boston, controlada pela FEDRA, e trabalha como contrabandista junto com Tess (Anna Torv). Sem conseguir fazer contato com Tommy pelo rádio há algumas semanas, ele decide ir procurar seu irmão e encomenda uma bateria de carro com Robert (Brendan Fletcher), uma espécie de vendedor local. Quando Tess descobre que a bateria deles havia sido vendida para os Vaga-Lumes, um grupo rebelde que faz oposição à FEDRA, os dois resolvem pregar uma lição em Robert, mas acabam encontrando ele e seus capangas mortos. No local, a líder dos Vaga-Lumes, Marlene (Merle Dandridge), estava ferida e praticamente implora para que Joel e Tess levem uma garota até uma equipe no Capitólio Estadual de Massachusetts. Se a missão fosse bem sucedida, ela os recompensaria não apenas com uma bateria, mas também com um veículo abastecido, armas e suprimentos. Embora tenham resistido no começo, os dois percebem que não haviam muitas opções e acabam aceitando realizar o trabalho, dando início a uma emocionante jornada repleta de surpresas, perigos e perdas.

No final do primeiro capítulo, descobrimos por qual motivo Marlene fez uma proposta tão generosa: enquanto saiam da zona de quarentena, Joel, Tess e Ellie (Bella Ramsey) são surpreendidos por um soldado da FEDRA, ocasião em que descobrem que a garota estava infectada após a realização de um teste. Ellie contesta o resultado e mostra uma marca no seu braço: ela havia sido atacada três semanas atrás e não desenvolveu a infecção, sendo que as demais pessoas não passam de um dia. Visando acabar com as dúvidas e desconfianças de Tess e Joel, a jovem diz que ela pode ser a chave para a criação de uma vacina e revela que estava sendo levada para uma base dos Vaga-Lumes no Oeste, onde havia médicos trabalhando em uma cura. Joel a princípio parece não acreditar muito nas palavras de Ellie, mas logo percebe que ela realmente era uma garota especial e faz de tudo para protegê-la.

The Last of Us é brutal: na mesma velocidade em que nos apresenta novos personagens, a série se livra de muitos deles. Poderia listar aqui vários nomes que se encaixam nessa definição, mas como não quero estragar a experiência daqueles que ainda não assistiram a primeira temporada, vou deixar você mesmo descobrir do que eu estou falando. Nesse novo mundo os infectados representam uma grande ameaça, mas em muitos momentos os humanos se mostram muito mais perigosos, conforme podemos observar nos eventos que acontecem em Kansas City e Silver Lake. À medida em que superam as dificuldades, o rabugento Joel vai se abrindo aos poucos e mostra o seu lado mais carinhoso, da mesma forma que a desbocada Ellie passa a entender que os dois estavam juntos em prol de um mesmo objetivo. Ela é apenas uma adolescente que cresceu em um mundo sem esperança, ao passo que ele ainda sofre com os traumas do passado.

Se a atração da HBO brilha ao recriar cenas praticamente idênticas às vistas no jogo de 2013, a série também se destaca nos momentos em que não é fiel à obra original. Quando penso em adaptações, não espero encontrar algo 100% idêntico, até porque cada mídia possui as suas peculiaridades, mas sim que a essência do material de origem seja mantida. No caso de The Last of Us, todas as mudanças implementadas tornaram a história ainda melhor. O terceiro episódio explora a relação de Bill (Nick Offerman) e Frank (Murray Bartlett) de uma maneira completamente diferente daquela vista no game. Os personagens tiveram um desenvolvimento bem mais profundo, oportunidade em que os roteiristas mostraram como uma relação de amor pode superar todas as ameaças, um tipo de abordagem que geralmente não vemos em obras pós-apocalípticas. Essa característica não é algo específico do capítulo três, todo o primeiro ano gira em torno das relações humanas, retratando os seus pontos positivos e negativos.

Considerações finais
The Last of Us era a minha série mais aguardada de 2023, não só por adaptar um dos jogos mais premiados da história, mas também pelas pessoas que estavam envolvidas no projeto: Neil Druckmann, escritor e diretor criativo do game, e Craig Mazin, criador da minissérie Chernobyl. O episódio de estreia já causou uma ótima primeira impressão e os capítulos que o sucederam me deixaram extremamente satisfeito e empolgado. É inegável que a narrativa em si já tinha os seus méritos e de certa forma até facilitava uma adaptação, mas só isso não é o suficiente. Os demais elementos da atração foram extremamente bem trabalhados e o resultado final é uma produção de alto nível. É legal observar como cada capítulo possui as suas próprias características, o que evidencia a progressão de Joel e Ellie rumo ao Oeste e explora as diversas facetas desse universo. Se for para fazer alguma ressalva, gostaria apenas de ter presenciado mais cenas com os infectados em ação.

Além do talento de Pedro Pascal e Bella Ramsey, que enfatizam o processo de transformação dos protagonistas ao longo da jornada, todo o elenco desempenha ótimas performances, contribuindo diretamente para a criação de um forte tom dramático. Outro ponto que me chamou a atenção em todos os nove episódios foram as belíssimas ambientações, que em conjunto com a fotografia e a direção, transmitem para o público as particularidades de um mundo parcialmente destruído. Você percebe a qualidade da série quando ela consegue entregar cenas bem trabalhadas em diversas circunstâncias, como ruas e prédios abandonados, túneis, florestas e locais cobertos pela neve. O nível de detalhe da caracterização dos infectados é realmente surpreendente, desde os estágios iniciais até os mais avançados. O enredo em alguns momentos tem uma quebra de ritmo, principalmente quando busca aprofundar pontos específicos da narrativa, mas consegue com frequência entregar acontecimentos marcantes.

Nota
★★★★★ – 5 – Excelente

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Criador e editor do Portal E7, Herbert é advogado, amante de games e séries. Gamertag/ID: "HerbertVFV".
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