Análise da série Ruptura (1ª temporada)


Imagine ter duas versões de si mesmo separadas por um microchip implantado no cérebro. Esse é um dos requisitos para trabalhar na Lumon, uma misteriosa empresa de biotecnologia que existe desde o século XIX. Os segredos em torno da companhia são tão grandes que a maioria dos funcionários não fazem ideia no que eles estão trabalhando. Ao conseguir uma vaga de emprego na corporação, as pessoas são submetidas, de livre e espontânea vontade, a um procedimento chamado ruptura, que é responsável por separar as memórias da vida pessoal e da vida profissional. Isso significa que enquanto estão trabalhando as pessoas não têm nenhuma lembrança do que fazem fora do serviço, da mesma forma que não conseguem recordar de nada que acontece na Lumon quando deixam suas instalações. Seria essa mais uma tentativa de manter em sigilo as atividades desenvolvidas pela empresa? A bifurcação gera muita polêmica na sociedade, levando vários ativistas a fazerem campanha contra o procedimento.

A série tem início com uma mulher acordando em cima de uma mesa em uma sala de conferências, sem se lembrar de quem ela é e onde ela está. Helly (Britt Lower) havia acabado de passar pelo processo de ruptura e não se recordava de informações básicas de si, como o nome e o local do nascimento. Após responder cinco perguntas, ela se encontra pessoalmente com Mark (Adam Scott), que havia acabado de ser promovido ao cargo de chefe do departamento de Refinamento de Macrodados. Confusa, Helly só compreende de fato o que está acontecendo quando assiste um vídeo gravado por ela antes de passar pela ruptura. Mesmo sabendo que aquela era uma versão de si que só existia no trabalho, a personagem tem muita dificuldade em aceitar a escolha que foi feita por sua versão "externa" e pratica várias atitudes que desafiam as normas de conduta da empresa, dando trabalho para Graner (Michael Cumpsty) e Milchick (Tramell Tillman), responsáveis pela segurança.

Em sua versão "externa", Mark é um ex-professor de história que vive em luto pela morte de sua esposa em um acidente de carro. Ele mora sozinho em uma casa subsidiada pela Lumon e tem como vizinha ninguém menos do que Harmony (Patricia Arquette), sua chefe na empresa. Diferente dos demais, Harmony não passou pelo processo de ruptura e fora do ambiente de trabalho assume a identidade de Sra. Selvig. Proprietária de uma loja, Selvig cria uma relação muito próxima com Mark e sempre que percebe algo estranho com seu vizinho não perde a oportunidade de investigar o que está acontecendo. Isso faz com que ela monitore Mark durante praticamente todo o tempo. O fato de usar identidades diferentes dentro e fora da companhia acaba sendo determinante para Harmony perceber algo que acontece na reta final da temporada.

Além da novata Helly, Mark trabalha junto com Dylan (Zach Cherry) e Irving (John Turturro) no Refinamento de Macrodados. A tarefa do grupo é identificar sequências de números em um arquivo no computador e colocá-los em um dos cinco cestos disponíveis. Ninguém sabe o que esses números significam e nem qual é o objetivo do refinamento. Para incentivá-los, os refinadores recebem pequenos prêmios conforme progridem. Dylan leva isso muito a sério e coleciona uma série de caricaturas por ter concluído por completo a tarefa. Já Irving segue estritamente as regras da empresa e adverte seus colegas quando há alguma violação. Ao longo da primeira temporada, Irving se apaixona por Burt (Christopher Walken), chefe do departamento de Óptica e Design. Isso faz com que haja uma maior interação entre essas duas divisões, oportunidade em que conhecemos um pouco das demais atividades exercidas no interior da companhia. Com corredores formados por paredes brancas, que mais parecem um labirinto, os departamentos são amplos e vazios, tornando o ambiente da Lumon bem excêntrico.

As coisas começam a ficar mais interessantes quando Petey (Yul Vazquez), antigo chefe do Refinamento de Macrodados, procura Mark, seu melhor amigo no trabalho, para falar sobre a Lumon. Desligado da empresa de forma misteriosa, ele passou por uma reversão da ruptura, algo que dizem ser impossível quando alguém está sendo contratado, e agora lida com os efeitos colaterais provocados pelo procedimento. O maior desafio será fazer com que Mark consiga absorver a sua mensagem, já que a bifurcação da memória impede que o protagonista leve para o interior da companhia as informações que recebe do lado de fora. Posteriormente, Mark também se encontra com outro ex-funcionário da Lumon, deixando tudo ainda mais empolgante.

Existem vários aspectos que chamam a atenção em Ruptura e a forma com que a sua enigmática história é desenvolvida é apenas um deles. Tudo se encaixa perfeitamente bem no enredo e o público vai descobrindo aos poucos parcela dos inúmeros mistérios da atração. Por qual motivo os funcionários de uma empresa tão avançada trabalham em um local equipado com tecnologias do passado? Esse é apenas um dos muitos questionamentos que não são respondidos durante o primeiro ano da atração. A cada episódio a narrativa se torna mais interessante, culminando com um desfecho surpreendente.


Considerações finais
Estranheza talvez seja uma boa palavra para descrever a primeira temporada de Ruptura. Criada por Dan Erickson, a atração foge do padrão ao construir um universo enigmático em que o normal é não ser normal. A ruptura muda completamente a vida das pessoas e isola do mundo praticamente tudo o que acontece no interior da Lumon. Aquilo que consegue passar pelo rigoroso sistema de segurança da companhia se torna uma brecha para que questionamentos comecem a ser feitos, momento em que acompanhamos os membros da divisão de Refinamento de Macrodados se aventurando pelas misteriosas instalações da companhia.

Junto com o ótimo desenvolvimento da narrativa, direção e fotografia possuem um papel primordial para construção do clima singular da série. Os enquadramentos valorizam os ambientes e todo o mistério que está atrelado a eles. O elenco desempenha um trabalho fenomenal ao interpretar personagens complexos, que muitas das vezes possuem personalidades bem diferentes enquanto estão trabalhando. A junção desses fatores torna Ruptura uma das melhores séries que estrearam em 2022.

Nota
★★★★★ - 5 - Excelente


➜ Você pode ler análises de outras séries clicando aqui.
Herbert Viana

Criador e editor do Portal E7, Herbert é advogado, amante de games e séries. Gamertag/ID: "HerbertVFV". twitter

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