Análise da série True Detective (3ª temporada)

Cronologicamente, a história da terceira temporada de True Detective inicia em 1980, quando os irmãos Will (Phoenix Elkin) e Julie Purcell (Lena McCarthy/Bea Santos) saíram de bicicleta para encontrar um amigo no parquinho e não voltaram para casa. Como havia pedido para que eles retornassem antes de anoitecer, o pai decidiu acionar a polícia e comunicar o desaparecimento dos filhos após não conseguir localizá-los. Os investigadores estaduais Wayne Hays (Mahershala Ali) e Roland West (Stephen Dorff) assumiram a investigação e foram até a residência da família para levantar as primeiras informações e organizar uma busca pela região.

Como os pais das crianças, Tom (Scoot McNairy) e Lucy (Mamie Gummer), não tinham um bom relacionamento, isso acabou dificultando os trabalhos iniciais da polícia. Na casa em que eles moravam, Wayne e Roland encontraram alguns elementos estranhos e que só fazem sentido conforme a história se desenvolve. Tendo descoberto que um primo de Lucy havia passado algumas semanas com a família, conversando com os moradores os detetives também conseguiram o nome de pessoas que foram vistas transitando pelo possível caminho que Will e Julie tinham percorrido. Como havia um grande ar de incerteza naquele momento, qualquer tipo de informação era útil e todos eram tratados como suspeitos.

Logo no final do capítulo de estreia, Wayne fez uso de suas habilidades de rastreamento e localizou o corpo de Will, que estava deitado em uma pequena caverna com os dedos entrelaçados, como se estivesse rezando. Não havia nenhum sinal de Julie, mas na área foram encontrados alguns bonecos de palha que deixaram os detetives intrigados. Devido à falta de respostas por parte da polícia, quatro moradores locais resolveram agredir e ameaçar Brett Woodard (Michael Greyeyes), um homem que coletava lixo reciclável, por acreditar que ele era o responsável pelos crimes. Essa vontade de fazer justiça com as próprias mãos não para por aí e termina de uma forma trágica, afetando também a condução da investigação.

Além dos eventos ocorridos em 1980, a terceira temporada de True Detective conta com duas outras linhas temporais. Em 1990, o caso de Julie Purcell é reaberto após as suas impressões digitais terem sido identificadas em um assalto a uma farmácia. Roland, que agora era tenente, ficou encarregado de averiguar essa situação e decidiu convidar Wayne para novamente trabalhar com ele. Antes de efetivamente começarem as investigações, os dois passaram por uma espécie de interrogatório e comentaram sobre o que aconteceu 10 anos atrás, o que lembra a estrutura adotada na primeira temporada. Os detetives até conseguiram outros elementos de prova, mas suas ações desencadearam novas mortes e comprometeram o que vinha sendo feito.

Já a terceira linha temporal é ambientada em 2015 e começa nos mostrando Wayne participando de um programa de TV sobre crimes, momento em que descobrimos que o desaparecimento de Julie ainda estava sem solução. Agora bem mais velho, Wayne sofre com a perda da memória enquanto tenta mais uma vez desvendar o que aconteceu com a filha de Tom. Inicialmente Roland não queria se envolver outra vez com o caso, mas ele supera uma desavença do passado envolvendo o seu antigo colega e passa a ajudá-lo a encontrar o que eles deixaram passar batido por duas vezes. A intercalação dos eventos ocorridos nessas três décadas cria uma história que conseguiu prender a minha atenção do início ao fim.

Outra parte relevante do enredo é o relacionamento de Wayne com Amelia Reardon (Carmen Ejogo). O investigador conheceu Amelia quando visitou a escola para colher o depoimento de alguns alunos após o desaparecimento dos irmãos. Dez anos depois, os dois estavam casados e ela havia escrito um livro sobre o caso Purcell. No decorrer dos episódios, acompanhamos detalhes do relacionamento conturbado que o casal tinha e como o desaparecimento de Julie mexia com eles de diferentes formas. Embora nunca tivesse lido o livro de Amelia, agora que está lidando com problemas de memória a obra se torna um dos principais meios que Wayne utiliza para tentar se lembrar do que aconteceu anos atrás.

Considerações finais
Retratando eventos ocorridos em três épocas diferentes, a terceira temporada de True Detective adota uma estrutura não linear e logo no começo revela para o público que o crime que deu origem a história estava há 35 anos sem solução. Durante os oito capítulos, acompanhamos o trabalho dos dois investigadores e os motivos pelos quais eles não obtiveram êxito em solucionar o caso. Apresentando um desenvolvimento lento, a história é bem construída e consegue fazer boas ligações entre as suas linhas temporais. Além de centrar-se na investigação policial, a trama também aborda o desgaste das relações humanas ao longo dos anos e como é possível superar desavenças do passado.

Se tem algo que merece ser ressaltado é o processo de caracterização dos atores Mahershala Ali e Stephen Dorff nas diversas fases de vida de Wayne e Roland. Além do trabalho de maquiagem impecável, a dupla desempenha uma excelente atuação ao transmitir os sentimentos de seus personagens em diferentes situações. Isso fica bem mais claro no caso de Mahershala, uma vez que a série tem um enfoque maior em Wayne. A atração criada por Nic Pizzolatto também se destaca pela fotografia e direção, algo que fica evidente já na abertura. Olhando para a temporada como um todo, diria que faltou uma pitada extra de mistério, são poucos os momentos que realmente nos surpreendem. A trama é concluída de forma melancólica, se encaixando com a temática trabalhada desde o começo do terceiro ano.

Nota
★★★★☆ – 4 – Ótimo

Veja mais sobre True Detective:

└ Análise da série True Detective (1ª temporada)
└ Análise da série True Detective (2ª temporada)

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Criador e editor do Portal E7, Herbert é advogado, amante de games e séries. Gamertag/ID: "HerbertVFV".
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