Análise da série True Detective (2ª temporada)

Adotando o formato de série antológica, o segundo ano de True Detective apresenta uma história completamente diferente daquela protagonizada pelos detetives Rust Cohle e Marty Hart. Desta vez a equipe de investigadores é formada por três agentes de diferentes áreas e departamentos da polícia. A atração criada por Nic Pizzolatto começa mostrando o dia a dia dos três policiais até chegarmos a um ponto comum, o crime que fará com que eles passem a trabalhar juntos: a morte de Ben Caspere, o administrador da cidade de Vinci. O corpo de Ben foi encontrado pelo policial Paul Woodrugh (Taylor Kitsch) na beira de uma estrada, amarrado em uma cadeira e com os olhos queimados. É na cena do crime que Woodrugh acaba conhecendo Ray Velcoro (Colin Farrell) e Ani Bezzerides (Rachel McAdams), com quem ele virá a trabalhar para tentar solucionar o caso.

Além do trio policial, a série da HBO também é protagonizada pelo criminoso Frank Semyon (Vince Vaughn), que era sócio de Caspere. A morte de Caspere acaba provocando um verdadeiro desastre na vida de Semyon, já que os dois estavam trabalhando juntos em uma empreitada para adquirir terrenos em um local onde o governo da Califórnia pretende construir um corredor ferroviário. Frank havia entregado para seu parceiro uma grande quantidade de dinheiro, forma que encontrou para legitimar seus negócios. Com o falecimento de Caspere, Frank descobre que grande parte do seu dinheiro havia sido desviado e em nenhum dos contratos assinados no empreendimento constava o seu nome. Agora, sem dinheiro e com suas propriedades hipotecadas duas vezes, o criminoso começa a entrar em desespero.

Diferente da primeira temporada, o segundo ano de True Detective trata de explorar com muito mais profundidade as histórias dos seus protagonistas. Os três episódios iniciais são responsáveis por introduzir o espectador na trama que será desenvolvida subsequentemente. Embora as histórias criadas por Nic Pizzolatto sejam boas, o desenvolvimento inicial é muito lento, fator que pode desencorajar muitos a seguirem adiante. Para uma série com apenas oito episódios, utilizar três capítulos para fazer esse tipo de abordagem talvez não tenha sido uma das escolhas mais acertadas.

Um ponto interessante do enredo é que os quatro personagens enfrentam problemas pessoais. Ray no passado matou o suposto estuprador de sua mulher e vive com esse trauma até hoje; ele também não sabe se é o pai biológico do seu filho, um menino que sofre bullying na escola. Ani, devido a problemas familiares enfrentados na infância e em razão da sua forte personalidade, tem dificuldades em desenvolver relações amorosas com outras pessoas. Woodrugh enfrenta uma luta pessoal consigo mesmo e acaba se jogando em relacionamentos sem nenhuma perspectiva de futuro. Já Frank deseja muito ter um filho, mas não consegue gerar um sucessor junto com sua mulher.

Temos algumas situações interessantes que são desenvolvidas entre essas histórias, como a ligação existente entre Ray e Frank, fruto de um evento do passado. Ray já não é considerado um policial muito honesto pela corporação e terá o desafio de trabalhar em um caso que Frank tem profundo desejo em saber maiores detalhes. A princípio, apesar de compartilharem informações sobre as investigações, os três policiais não são totalmente honestos uns com os outros, principalmente quanto ao modo que utilizam para conseguir algumas informações. Ainda há uma espécie de disputa para a condução do caso, nem tanto pelos três agentes, mas sim por seus superiores hierárquicos. Somente quando eles conseguem entrar em uma maior sintonia é que atingem avanços significativos.

No final do quarto episódio, quando temos uma sequência de ótimas e violentas cenas de tiroteio, uma chave é girada e a atração toma um novo rumo. A partir daí, a investigação do assassinato de Caspere ganha mais espaço, ao mesmo tempo que Frank vê a sua relação com o cartel mexicano ficar cada vez mais complicada. A série então assume um melhor ritmo de progressão que nos conduz a um final impactante e cheio de simbologia.

Considerações finais
A vantagem de se produzir uma série antológica é a ampla liberdade que os roteiristas têm para desenvolver novas experiências a cada temporada. É de se elogiar a intenção de Nic Pizzolatto em criar uma nova história que se afasta completamente do excelente primeiro ano, mas é fácil reconhecer que o mesmo padrão de qualidade não foi entregue. Apesar de a temporada passada também ter uma introdução lenta, Pizzolatto conseguiu rapidamente deixar o telespectador intrigado com a história já no episódio de estreia, o que não se repetiu aqui.

Algo que as duas temporadas compartilham são as belíssimas aberturas. Desta vez ao som de Nevermind, a música de Leonard Cohen diz muito sobre a história do segundo ano. Com ótimas performances dos atores, direção e fotografia bem executadas, o grande problema do segundo ano de True Detective é a estrutura de progressão escolhida, resultando em um desenvolvimento inicial muito lento e que escolhe bombardear o expectador com várias informações. O bom é que nada é perdido, já que mais para frente a série exigirá que nos lembremos dos detalhes apresentados nos primeiros capítulos. No saldo final, a história é bem escrita e abre espaço para temas importantes, como prostituição e tráfico de pessoas.

Nota
★★★☆☆ – 3 – Bom

Veja mais sobre True Detective:

Criador e editor do Portal E7, Herbert é advogado, amante de games e séries. Gamertag/ID: "HerbertVFV".
Deixe seu comentário ›